domingo, 28 de abril de 2013

Aqui e agora

Elias Penteado Leopoldo Guerra

Você pode viajar de carro por uma estrada, em uma noite muito escura, sem luar, de Porto Alegre a Belém, tendo visão adiante da estrada de somente cerca de cinqüenta metros, que é o alcance médio dos faróis de um carro. É só o que você consegue ver da estrada sob a luz dos faróis de seu carro, é o que você consegue perceber, ter consciência e, no entanto, é o suficiente, pois deste modo você pode percorrer, com todas as suas curvas, os quase quatro mil quilômetros de estrada que separam as duas cidades, viajando à noite, em escuridão total, sem saber, em determinado momento, o que há mais adiante.

É assim também o que ocorre em nossa vida, só se pode perceber e ter consciência do que está ocorrendo no momento presente O passado já se foi, tornou-se história, lembrança, não existe mais e o futuro é somente uma expectativa, um desejo, algo que se quer alcançar, mas que ainda não existe!

Na vida prática, no dia a dia de nossa existência, deixamos de ter a mesma confiança e aceitação no que podemos perceber e ter conhecimento, como temos quando na estrada em viagem de Porto Alegre e Belém, na escuridão da noite, pelos faróis de nosso carro. Nesta situação não podemos saber o que acontecerá, o que haverá na estrada, mas saímos e viajamos confiantes e, estando alerta e atentos, com atenção em cada trecho da estrada que estamos percorrendo, chegaremos tranquilamente ao nosso destino que determinamos.

Por que não adotamos esta mesma atitude no cotidiano de nossa vida, tendo esta confiança no momento presente, no aqui e agora, que é a única realidade que existe de verdade? O passado já não existe mais, o futuro ainda nem começou a existir – é só uma expectativa, um anseio, um desejo, mas que não podemos viver no agora.

A tranqüilidade, a paz, somente surgirá quando tivermos total consciência do que ocorre no momento presente, quando nossa atenção e percepção estiver no aqui e agora. Esta é a única possibilidade de tornarmos realidade  aquilo que desejamos para o nosso futuro. Portanto o futuro só acontecerá como almejamos não só se tivermos plena consciência do aqui e agora, mas desde que tenhamos muito claro o que de fato aspiramos, queremos para nossa vida.

Portanto é necessário que se saiba aonde se quer chegar, pois aquele que viaja sem um destino definido nunca chegará a lugar algum. Mas somente podemos  estar alerta, atento, consciente do que está acontecendo agora e aqui, desde que  saibamos porque estamos aqui bem como para onde queremos ir; embora tenhamos que ter consciência que não se pode ter certeza absoluta de tudo, pois a realidade está em mudança constante. Certamente se terá maior possibilidade de alcançarmos nosso destino se tivermos claramente definido o que queremos.

Tudo, assim,  depende de nós mesmos, da atitude de confiança que tenhamos,  da consciência que tenhamos de quem somos, porque existimos e, portanto, para onde queremos e devemos ir e que decidamos qual será nosso destino.

Quando se chega ao nosso destino ele já não é mais o nosso destino – pois já estamos lá, ele já é a nossa realidade, o nosso precioso presente! Só quando chegarmos lá é que seremos nós!    

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Não somos vitimas



Não somos vítimas, mas podemos nos considerar vítimas, a opção e a responsabilidade são sempre nossas e os resultados também. Com relação a um copo de água exatamente pela metade, podemos dizer que está meio cheio ou meio vazio, a escolha também é sempre nossa. O mundo é consequência, um reflexo de como o vemos e o sentimos.

Se olharmos a natureza e soubermos aprender com ela, veremos que nela nada é resultado da sorte ou do azar, nada se considera vitima das circunstâncias... as coisas acontecem... O corredor de fórmula Indy , Tony Kanaam, ontem, em Indianápolis, deu uma demonstração disto, pois saiu no início da corrida entre os últimos, conseguiu chegar ao quarto lugar, sofreu um problema, que não foi provocado por ele, no box, o que o levou novamente às últimas colocações na corrida, mas acabou chegando, ao final, em quarto lugar, porque nunca se entregou, nunca desistiu ou se desanimou.

Sabe-se que os maus existem no mundo porque os bons se omitem, são passivos, se consideram vítimas, tem consciência de que a realidade é essa e aceitam passivamente, sem qualquer ação para modificar isto. Submetem-se e se auto escravizam às situações externas, sem tomar qualquer ação e queixam-se que as coisas lhes acontecem, sem reagir a elas.

A realidade externa está fora de nosso controle e vontade, mas dependem de nossa vontade as ações que temos para transformar essa realidade. Quando o presidente dos Estados Unidos da América, no início do ano 1960 declarou, publicamente para o mundo todo, que seu país colocaria homens na Lua e os trariam de volta, são e salvos, não existia, em qualquer lugar do mundo conhecimento e tecnologia para realizar isto, mas em 1969 homens chegaram à Lua e voltaram sãos e salvos. Isto foi resultado da motivação que levou-os a realizar o que se determinaram a fazer, não importando as dificuldades que existiram para tanto. Se lhe tivessem dito que era impossível realizar este projeto e concordasse, nada teria acontecido.

Se nos lembrarmos como o ser humano vivia na idade da pré-história e compararmos como vive hoje, nota-se a imensa diferença que existe, a qual foi produto daqueles que não desistiram que persistiram, que acreditaram na capacidade de transformar as coisas.

O que é extremamente importante é a motivação, a razão pelo qual se quer transformar o mundo, a Vida. Esquecemos que, não nascemos nem sobrevivemos por nossa exclusiva vontade e ação, dependemos de outros para viver. Não somos um ser isolado e, na realidade somos uma célula de um organismo muito maior, independente O que acontece quando uma célula de nosso organismo resolve que é independente e começa a se reproduzir descontroladamente é o câncer, que acaba por destruir, levando à morte o corpo inteiro. Todas e cada célula de nosso corpo, que são cerca de cem trilhões, sabem qual é a sua função e interagem com as demais conforme sua natureza e sua finalidade. Por esta razão é que existe a VIDA!!!!

Estamos no limiar de uma nova era, a era da consciência, da compreensão de quem somos e porque existimos, porque estamos aqui, no mundo , na Vida. Certamente não é para nosso exclusivo e independente interesse. Nota-se que o número de pessoas que tem essa consciência está crescendo esse multiplicando, como um câncer saudável, do bem. A informação e a comunicação são o caminho para essa consciência de NOSSO papel na Vida. A internet com suas infinitas possibilidades é o caminho para a nossa reunião. Assim como todas as células do nosso organismo estão interligadas e se comunicando, a comunicação está permitindo que esta nova consciência esteja crescendo e se multiplicando. O COPO DE AGUÁ ESTÁ MEIO CHEIO.

Elias Penteado Leopoldo Guerra

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Porque estou aqui? O encontro




  • “No começo foi a existência. Mas a existência sem alguém ou algo que exista não tem sentido. No começo foi a palavra, a ideia – mas o ato foi anterior. No começo foi o ato, mas o ato não é possível sem o agente, sem um objeto em direção ao qual se dirija e sem um tu a quem encontrar” (Jacob Levy Moreno” – criador do Psicodrama)

A inteligência humana não consegue imaginar que possa existir alguma coisa que não tenha sua causa, portanto se conclui quem tudo tem uma causa, embora nem sempre seja aparente ou fácil de perceber, o que não significa, entretanto, que não exista; assim a nossa vida tem que ter uma causa, embora a maioria das pessoas não pense nisto e não tenha conhecimento dela e, desta forma, ignora a razão de sua existência,.

O conhecimento é poder, pois só podemos ter qualquer ação como consequência do conhecimento do que somos e por que somos. O conhecimento vai além e não se confunde com a informação; é o saber as consequências e a repercussão das nossas ações, proporcionando assim uma visão mais ampla de si próprio e da Existência. Isto significa libertação de nossas limitações, ampliando as alternativas de ação, permitindo que se tenha uma finalidade para vida e possibilite encontrar nosso caminho.

O encontro é o caminho; encontrar o outro é encontrar a si próprio, conhecer-se, encontrar a Existência, a Vida, o Universo e a sua razão de ser e assim saber existir, estar aqui e agora, o que possibilita encontrar paz, serenidade, tranquilidade.

O encontro é o propósito do Psicodrama, que é o diálogo ao vivo. Diálogo origina-se na língua grega, significando “dis” (grego) = em dois; di(a) (grego) = através, logos (grego) = o princípio da inteligibilidade, razão), ou seja, a troca mútua de conhecimentos, razões. O núcleo do Psicodrama é, pois, o encontro, que foi assim expresso por Fonseca Souza Filho em seu livro “Psicodrama da Loucura” página 132 : “... Na verdade o EU sozinho é uma abstração. O EU só existe, realmente, na medida em que encontra um TU. O EU só conhece e vive o seu mundo quando consegue interatuar com um TU real.”, ou seja, o encontro é produto da reciprocidade e por esta razão o melhor terapeuta é o próprio cliente.

No Universo tudo é energia e a energia busca relações. Se o Universo é concebido como uma relação de todos os seus elementos, então a posição da pessoa humana está também nessa rede de relação cósmica.

“Encontro significa estar junto, encontrar-se, dois corpos tocarem-se, ver e observar. Apalpar, sentir, compartir e amar, comunicação mútua, conhecimento intuitivo mediante o silêncio ou o movimento, a palavra ou o gesto, o beijo ou o abraço, unificar-se, uma com um” (Jacob Levy Moreno).

Somos todos iguais na essência humana, que é única, somos diferentes só na forma, portanto ser diferente é normal. Somos na realidade células de um imenso organismo, o Universo, portanto aceitar as diferenças, respeitando-se a essência comum, é o caminho para encontrar o outro e assim nos encontrarmos e através deste encontro nos sintonizarmos e nos ligarmos à Existência. Desta forma estaremos criando uma corrente do bem, uma metátese do bem, para a cura do organismo total, que resulta no bem de todos.

terça-feira, 16 de abril de 2013

O ENCONTRO COM SI PRÓPRIO



As pessoas procuram manter ou buscar saúde, o bem estar físico, psíquico e espiritual e quando o perdem buscam promover a volta ao estado de saúde, buscam a cura.

A cura psíquica está ligada as emoções e sentimentos da pessoa com relação à sua situação face à realidade, não propriamente ligada à realidade, mas a maneira como a pessoa a percebe e a sente.

O mal estar, contrário à saúde psíquica, resulta da percepção que a pessoa tem sobre a realidade, ou seja, a felicidade ou infelicidade está no interior da pessoa e não no exterior, é consequência de como a pessoa vê a situação e não da situação em si mesma.

Somente a própria pessoa pode sentir e saber o que a perturba, pois seu drama começa em seu interior, portanto a cura é uma jornada a esse interior em busca do conhecimento de si mesma para identificar a causa de seu desconforto. Somente a própria pessoa pode fazer isto, pois é o encontro consigo mesma, que, entretanto, também pode ser promovido pelo encontro com outra pessoa: desta forma, ocorre assim a catarse, que é o efeito salutar provocado pela conscientização da vivencia de uma situação traumatizante, cuja lembrança inconsciente provoca a desconforte sofrido pela pessoa.

O encontro significa estar junto, compartilhar, sentir junto, amar, como, de maneira bela, foi colocado nas palavras de Jacob Levy Moreno, criador do Psicodrama:
“.........................................................................................................................
Um encontro em dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos
           e colocá-los-ei no lugar dos meus:
           E arrancarei meus olhos
           Para colocá-los no lugar dos teus;
           Então ver-te-ei com os teus olhos
           E tu ver-me-ás com os meus.

Assim, até a coisa comum serve o silêncio
E o nosso encontro permanece a meta sem cadeias:
O Lugar indeterminado, num tempo indeterminado,
A palavra indeterminada para o Homem indeterminado.”

O encontro é o compartilhar energia que possibilita a descoberta de si mesmo, o despertar para nova percepção da realidade, o que só pode ser feito pela própria pessoa, da mesma forma que ninguém pode respirar por ela.

As pessoas não precisam sempre de um conselho, algumas vezes tudo que precisam é uma mão para segurar, ou de um ouvido para lhe ouvir, ou um coração para entendê-las e uma sensibilidade para senti-las e é isto que o psicodrama bipessoal se propõe.
Elias Penteado Leopoldo Guerra

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Psicodrama Bipeesoal



PSICODRAMA BIPESSOAL


O Psicodrama é uma filosofia e técnica psicoterapêutica centrada na pessoa do cliente, que é quem promove a sua autocura. Na realidade não se trata de uma relação entre terapeuta e paciente. Paciente é aquele que sofre a intervenção do profissional, médico, do dentista ou qualquer outro agente da saúde, conceito designando aquele que sofre passivamente a ação desse profissional, sem crítica ou qualquer participação.

Isto não ocorre na relação do psicodrama bipessoal, pois o terapeuta na realidade é um facilitador, atua como um diretor de cena em uma representação dramática e o cliente, que é o outro participante da relação entre ambos, desempenha sua vida, sua realidade pessoal. Trata-se, portanto de uma terapia não diretiva, cujo objetivo é promover que o cliente tenha um insight, uma visão, se encontre, se reconheça e assim reformule sua relação com as pessoas e o meio ambiente, mediante intervenções adequadas.

A pessoa cresce desta forma na interação, na relação com o facilitador, o que lhe possibilita adquirir novas formas de interagir com a realidade social, adquirindo comportamentos que lhe permitam seu ajustamento a essa realidade. A realidade social é o meio em que a pessoa vive, pois “para ser humano é preciso crescer entre humanos”, e” a saúde não é possível no isolamento (T.Herranz).

Por se tratar de uma terapia não diretiva, o psicodrama bipessoal tem como objetivo promover que a pessoa tenha uma nova percepção de si própria e obtenha conhecimentos que serão os recursos que lhe deem possibilidade de enfrentar e superar sozinha as situações e circunstâncias que lhe geraram os seus conflitos interiores. O propósito do Psicodrama Bipessoal é, pois, tornar o cliente capaz de tomar por si próprio as atitudes adequadas à realidade, solucionando desta forma seus conflitos interiores, adquirindo capacidade de confrontar com as situações que lhe ocorrerem, com a capacidade de tomar a ação apropriada.

O Psicodrama Bipessoal é uma adequação do Psicodrama grupal à situação na qual terapeuta e cliente se relacionam a dois, aplicando-se a mesma filosofia, fundamentos e técnicas do Psicodrama. Trata-se de uma especialização da psicoterapia, ajustando-a a nossa realidade social e as condições que melhor se adéquem ao cliente.

Considerando a realidade em nossa comunidade o Psicodrama Bi pessoal pode ser mais uma alternativa psicoterapêutica, aliada as demais que existem.  

Elias Penteado Leopoldo Guerra – Psicólogo – CRP-06/17226